Mas afinal, o que são beatmakers?

A resposta é simples: São as pessoas que produzem beats, ou seja, bases instrumentais para serem usadas para "rappers" rimarem seus versos, para "d.j.’s" riscarem seus scratches nos toca-discos, para "b.boys" ou "b.girls" inventarem suas coreografias acrobáticas na arte do break dance. Se no inicio sua funcionalidade era de se servir como base para m.c.’s, com o tempo, os beats passaram a serem apreciados como peças instrumentais ou mesmo como trilhas sonoras.

“Beats”, “bases" ou “raps instrumentais”, são composições musicais feitas com equipamentos eletrônicos (sintetizadores, sequenciadores e baterias eletrônicas) ou com trechos sonoros (samples) tirados de outros discos, fazendo referências e buscando uma sonoridade específica do passado. Geralmente produzido individualmente e em alguns casos em coletivos, beatmakers são em sua maioria produtores de música eletrônica, d.j.’s ou rappers, mas pode também fazer parte do estilo de vida de artistas plásticos, intelectuais, personalidades da moda ou esportistas radicais.

Na história do hip hop, inúmeras obras narram, louvam ou mesmo criticam rappers, m.c.’s e d.j.’s. Algumas dessas obras se tornaram marcos da civilização contemporânea como "Rappers Delight” de “Sugarhill Gang", "Suckers MC’s" de “Run DMC”, "3 MCs and 1 DJ" dos "Beastie Boys". Mas dentro dessa vasta cultura, a figura do Beatmaker fora pouco contemplada como tema, embora sua importância seja crucial e definitiva.

O jazzístico beatmaker e produtor baiano "Dr Drumah" (alter-ego de "Jorge Dubman", baterista da banda "Ifá") se une ao hip hop psicodélico e caiçara do "Radiola Santa Rosa" (comandado pelo M.C. e também beatmaker "Dubfones", alter-ego do cantor / compositor paulista "Caio Bosco") para juntos renderem uma homenagem musical aos operários do rap instrumental.

A faixa "Para Todxs Xs Beatmakers” pode ser ouvida como um manifesto ao colocar os beatmakers como o quinto elemento fundamental da cultura hip hop (Assim como m.c.’s, d.j’s, breakdance e grafite) com a questão de que se eles não existissem, o que seria da música rap? Citando os grandes beatmakers da história do hip hop e, meditando sobre as qualidades e a profundidade dessa arte, a letra é um discurso com um teor histórico, que vai desde o início das manipulações sonoras com gigantescos equipamentos eletrônicos como a "musique concrète" e "Stockhausen", até os tempos atuais em que podemos produzir música com um simples celular, passando pelos mais legendários samplers, sintetizadores e drum machines. Tudo isso devidamente e visualmente explicado no vídeo clipe lançado pela dupla para essa música.

A base instrumental é um suculento rare groove "sampladélico" (música psicodélica feito com samples) com elementos de jazz, de easy listening, "Moog" e de música brasileira. Esteticamente e tecnicamente influenciado pela era de ouro do Hip Hop dos anos 90, a faixa é uma representante tupiniquim da teoria Low End praticada por A Tribe Called Quest, De La Soul, J Dilla e Madlib.

"Para Todxs Xs Beatmakers” marca o encontro de duas almas inquietas do frutífero cenário musical independente brasileiro atual.